segunda-feira, 23 de novembro de 2009

À VOSSA ESPERA



E vós, alunos do século XXI, que dizeis vocês de mim? Deixei escrito na última parte de "O Sentimento de um Ocidental":


Se eu não morresse nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!

Fica esta etiqueta à espera dos vossos trabalhos...


DE TARDE


DE TARDE


Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.


Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!


Proposta de trabalho (deixar comentário):

Confronta a pintura de Manet ("Le Déjeuner sur L'Herbe") com o poema de Cesário Verde- pontos de aproximação e de divergência.




O GRUPO DO LEÃO


Grupo do Leão - Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro

Em 1881 constituiu-se em Lisboa o Grupo do Leão (ver aqui), cenáculo de pintores considerados modernos, que conviviam na cervejaria com esse nome. Apareciam também alguns escritores, curiosos das conversas animadas sobre arte. Fui um dos primeiros.





domingo, 22 de novembro de 2009

A "PHOTOGRAPHIA" EXPANDE-SE

O meu olhar é, sem dúvida, poético e dizem muitos que marcado também pelo interesse relativamente à pintura. Será igualmente fotográfico, isto é, "photográphico", como se dizia no meu tempo? Era uma "arte" (arte? era enorme a discussão sobre o assunto...) em grande expansão (comprovem-no aqui). Fotografaram-me várias vezes:













À LUZ DO GÁS

Degas e Daumier











Haverá, como dizem (não confirmo nem desminto...), um Cesário Verde do campo e um Cesário Verde da cidade? Estive, de qualquer forma, atento ao meu tempo e a minha poesia deu conta das novas realidades sociais, como disse Jorge Custódio (no artigo "A Indústria Fabril em Portugal e em Lisboa na época de Cesário", na revista Prelo , nº 12, Julho-Setembro de 1986):


"A cidade de Cesário Verde é sobretudo a cidade dos bairros industriais onde a «negra multidão se apinha de tecelões, de fumos, de caldeiras». Uma cidade onde a paisagem se transforma pelo efeito da civilização industrial, à luz do gás ou na penumbra dos fumos das chaminés e dos boqueirões e becos. É ainda a cidade que se amplia e se expande, confundindo-se com o campo e gerando «sítios suburbanos, reles», lugares de focos de infecções, esterqueiros e miasmas sociais. É ainda a cidade fabril, viva, repleta de trabalho, assalariada e mercantil, cidade de artistas de ofício, de mulheres trabalhadoras, de operários, de artistas despedidos e de lumpen onde os problemas laborais vão paulatinamente definindo a questão social das sociedades industriais modernas- a luta de classes."




Proposta de trabalho (deixar comentário):

Documenta com versos de Cesário Verde as questões apresentadas na citação, não deixando de salientar a metamorfose poética operada pelo autor, através da referência, nomeadamente, a recursos de estilo particularmente relevantes.

JACINTO E DAVID

Continuar assim vivo, como se demostra neste blogue (estranha palavra...), depende muito da inteligência e sensibilidade dos que, muito tempo depois de mim, me estudaram. Por exemplo, Jacinto do Prado Coelho e David Mourão-Ferreira, cujos estudos sobre a minha poesia se tornaram, eles próprios, clássicos. Vão ver com os vossos próprios olhos! Basta espreitar o índice...




- Prado Coelho, Jacinto- Ao Contrário de Penélope, Lisboa, Bertrand, 1976

. artigo "Cesário Verde, poeta do espaço e da memória" (pp. 195-198)












Mourão-Ferreira, David- Hospital das Letras, 2ª. ed., Lx., I.N. Casa da Moeda, s.d.

. artigo "Notas sobre Cesário Verde" (pp. 67-95)

CARTA AO CONDE DE MONSARAZ


António


Fiquei hoje em casa, um pouco adoentado, com suposições de doenças, de futuros quebrados, confusamente baço, sem lucidez de cérebro nem de ponto de vista. Enquanto o sol, numa grande esteira clara, me entrou pelo quarto, estive bem contente, exuberante, cheio; a luz dourada e tépida sorria no estuque das paredes, nas cercaduras de flores pintadas, no mogno polido das cadeiras, no verniz de ferro do meu leito modesto de solteiro, na colcha muito lavada, com um bom cheiro de barrela e de alfazema e na minha imaginação de rapaz saudável.

Mais tarde abri todas as três janelas para receber mais claridade; invadiu-me a sombra triste, a melancolia do crepúsculo, a friagem antipática da humidade. (...)



Carta de Cesário Verde a António Macedo Papança (Conde de Monsaraz)


Proposta de Trabalho (deixar comentário):

Com base no extracto desta carta, comenta a seguinte opinião de Margarida Vieira Mendes a propósito de Cesário Verde: "Toda a poesia de Cesário Verde torna perceptível e palpável a paixão que a gera: a rejeição da morte".


terça-feira, 17 de novembro de 2009

SOPHIA E EU


A maior parte dos meus contemporâneos não me levou muito a sério como poeta. Será que o futuro me compreendeu melhor? Dizem que Sophia Andresen (teria antepassados estrangeiros, como eu?) é uma grande poetisa da língua portuguesa. Conhecem? Podem conferir aqui. Este é um poema dela acerca do meu mundo.



Cesário Verde

Quis dizer o mais claro e o mais corrente
Em fala chã e em lúcida esquadria
Ser e dizer na justa luz do dia
Falar claro falar limpo falar rente

Porém nas roucas ruas da cidade
A nítida pupila se alucina
Cães se miram no vidro de retina
E ele vai naufragando como um barco

Amou vinhas e searas e campinas
Horizontes honestos e lavados
Mas bebeu a cidade a longos tragos
Deambulou por praças por esquinas

Fugiu da peste e da melancolia
Livre se quis e não servo dos fados
Diurno se quis- porém a luzidia
Noite assombrou os olhos dilatados

Reflectindo o tremor da luz nas margens
Entre ruelas vê-se ao fundo o rio
Ele o viu com seus olhos de navio
Atentos à surpresa das imagens

Sophia de Mello Breyner Andresen, Ilhas, 1989


Proposta de trabalho (deixar comentário):

Um desafio: que tal tentares criar um texto poético que procure tanbém dar conta do modo como vês Cesário Verde e a sua poesia? O blogue escolherá alguns dos textos recebidos, dando-lhes o devido destaque na secção com a etiqueta "Que dizeis vocês de mim?" .

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

HENRIQUE POUSÃO

Foi um grande pintor português, sinto-o muito perto de mim. Também a morte, custa dizê-lo, o surpreendeu muito cedo. Podem saber mais sobre ele aqui e aqui. Mostro-vos também uma obra que pintou na ilha mediterrânica de Capri, na sua viagem por Itália.

Casas Brancas de Capri (1882) . Museu Soares dos Reis, Porto


Proposta de trabalho (deixar comentário):
a) Imagina sinestesias que possam exprimir as sensações motivadas por esta paisagem.

b) Que semelhanças encontras entre o trabalho de Pousão e a poesia de Cesário?




OS PRIMEIROS FILMES

Não pude conhecer estas "fitas", mas já no meu tempo, pouco antes, as novas tecnologias nos espantavam todos os dias. Gostei de pintura, devia gostar também de cinema, da sua acumulação de imagens vibrantes. Em França são os Irmãos Lumière que iniciam a nova arte e estas imagens estrangeiras não podem deixar de lembrar os operários, os burgueses, a magia do quotidiano, as atmosferas em que vivi na nossa Lisboa.



Proposta de trabalho (deixar comentário):

Relaciona passagens destes filmes com sequências de poemas de Cesário Verde.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

RETRATO DA JUVENTUDE

Inicio aqui a galeria dos meus retratos.

Proposta de trabalho (deixar comentário):
Descreve este retrato de Cesário Verde, procurando relacionar as características físicas e materiais com um hipotético perfil psicológico ou social.