domingo, 22 de novembro de 2009

CARTA AO CONDE DE MONSARAZ


António


Fiquei hoje em casa, um pouco adoentado, com suposições de doenças, de futuros quebrados, confusamente baço, sem lucidez de cérebro nem de ponto de vista. Enquanto o sol, numa grande esteira clara, me entrou pelo quarto, estive bem contente, exuberante, cheio; a luz dourada e tépida sorria no estuque das paredes, nas cercaduras de flores pintadas, no mogno polido das cadeiras, no verniz de ferro do meu leito modesto de solteiro, na colcha muito lavada, com um bom cheiro de barrela e de alfazema e na minha imaginação de rapaz saudável.

Mais tarde abri todas as três janelas para receber mais claridade; invadiu-me a sombra triste, a melancolia do crepúsculo, a friagem antipática da humidade. (...)



Carta de Cesário Verde a António Macedo Papança (Conde de Monsaraz)


Proposta de Trabalho (deixar comentário):

Com base no extracto desta carta, comenta a seguinte opinião de Margarida Vieira Mendes a propósito de Cesário Verde: "Toda a poesia de Cesário Verde torna perceptível e palpável a paixão que a gera: a rejeição da morte".


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